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Fórum da Iniciativa de Cidadania Europeia

As campanhas locais espanholas abrem caminho a uma iniciativa de cidadania europeia para combater o fosso digital na Europa

Atualizado em: 06/01/2021

Várias iniciativas locais em Espanha envolveram os cidadãos na identificação de soluções para o fosso digital no centro dos problemas comunitários. Escreveram manifestos para a inclusão digital das mulheres, dos migrantes, dos idosos e das pessoas com deficiência. Chamam a atenção das autoridades locais e dos vizinhos para a necessidade de colmatar esta lacuna. No entanto, a falta de competências digitais básicas e de acesso à Internet ainda estão, em certa medida, pendentes não só em Espanha, mas também à escala europeia. As iniciativas de cidadania locais são o primeiro passo de um instrumento mais vasto para exigir um melhor acesso e conhecimentos para a utilização dos serviços digitais.

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De acordo com avaliações recentes, o fosso digital na Europa continua a ser elevado: os cidadãos da UE com competências digitais básicas continuam a representar apenas 58 % da população em 2020. Além disso, em média, 9,5 % dos cidadãos da UE nunca acederam à Internet. 54 % são pessoas com deficiência, o que representa um rácio de um em cada três. No entanto, os países do Norte da Europa diferem consideravelmente dos países da Europa Oriental e Meridional. Na Suécia, na Dinamarca, nos Países Baixos e no Luxemburgo, a iliteracia digital continua a ser inferior a três por cento da população. No entanto, na Bulgária, Grécia, Portugal e Croácia, varia entre 18 % e 24 %. Em Espanha, esta percentagem é, em média, de 8 %.

Em Espanha, vários municípios desenvolveram iniciativas populares no contexto de programas, projetos e workshops de participação social. As próprias pessoas uniram-se na procura de soluções contra o fosso digital, que consideram um dos problemas mais relevantes das suas comunidades. Por exemplo, uma comunidade de vizinhos localizada em Alcobendas (norte de Madrid) participou num projeto apoiado pelo Município denominado «Train, Organise and Act». Neste contexto, escreveram um «manifesto para o reforço dos serviços telemáticos», a fim de exigir melhores serviços digitais na cidade. Pretendem incentivar todos os cidadãos a trabalharem em conjunto para alcançar estes objetivos.

 Entretanto, em Valência, uma cidade industrial de quase dois milhões de habitantes, um grupo de 30 ONG juntaram-se para promover a iniciativa «A Internet é um direito». Escreveram um «manifesto para a inclusão digital» para reivindicar medidas para colmatar o fosso digital e resolver o problema da desigualdade de género no acesso e na utilização dos serviços digitais.

É evidente que estas iniciativas locais sensibilizam para a importância do fosso digital para o desenvolvimento humano, a inclusão e a melhoria das competências digitais. Estes manifestos abordam o mesmo problema, embora tenham sido espontaneamente propostos por dois setores diferentes da sociedade.

Estes manifestos inspiram uma maior sensibilização, mas carecem de ações concretas a implementar pelos governos, que poderiam ser realizadas de forma eficiente através de uma iniciativa de cidadania europeia. A dimensão do fosso digital na região pode ser a ocasião para elaborar uma proposta mais abrangente, tendo em conta que o âmbito e a extensão dos direitos digitais excedem as fronteiras nacionais e envolvem uma rede digital de base europeia. Além disso, no contexto atual, o objetivo de «uma sociedade mais digital e inclusiva» no centro do Pilar Europeu dos Direitos Sociais salienta a necessidade de dar prioridade à conceção de estratégias para eliminar o fosso digital na agenda do plano de recuperação da crise.

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Além disso, as competências jurídicas da Comissão Europeia para propor medidas específicas, como a criação de fundos especiais ou subvenções para o acesso e a utilização de serviços digitais, são motivações para associar estas iniciativas locais a um instrumento europeu inspirado nas exigências dos cidadãos, como a Iniciativa de Cidadania Europeia.

Por último, os cidadãos de uma determinada localidade — uma cidade ou um Estado — do território europeu podem liderar ações à escala europeia baseadas nos direitos de acesso e utilização da Internet. Por conseguinte, são bem-vindas as observações sobre uma proposta de ICE de uma subvenção digital a integrar no sistema de proteção social de cada Estado-Membro (especialmente para aqueles que se encontram em situações de exclusão social ou de risco de pobreza).

ana bio

Participantes

Ana Milena Carranza Carranza

Ana Milena Carranza Carranza é advogada. Possui um doutoramento em Estado de Direito e Governação Global e um Mestrado em Análise Económica de Direito e Políticas Públicas da Universidade de Salamanca. É investigadora voluntária na Associação Amigos MIRA España sobre uma série de temas relacionados com as garantias em matéria de direitos humanos, a inclusão digital e os estudos sobre migrantes.

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Comentários

Inactive user | 16/02/2021

La pandemia ha acelerado la transformación digital en medio de la sociedad actual. Esto acentúa las desigualdades sociales existentes y amplia los factores de vulnerabilidad a los que expuestas las familias con menos recursos. Es necesario crear medidas para fomentar el acceso y aprovechamiento de internet por parte de toda la sociedad, sin dejar a nadie atrás

Inactive user | 16/02/2021

Hoy más que nunca es de suma importancia terminar con la desigualdad entre las personas que pueden tener acceso o conocimiento en relación a las nuevas tecnologías y las que no. Este tipo de iniciativas aportan realmente al avance y crecimiento de la comunicación entre grupos sociales.

Inactive user | 18/02/2021

«Pretende estudar? Boa! Inscrever-se em cursos virtuais, hoje é muito fácil, é ao alcance de todos. Mas posso «não, não tenho Internet»... é o que enfrentamos todos os dias. As pessoas em risco de exclusão social são as que mais necessitam do nosso apoio e que menos conseguem sair da sua situação devido ao fosso digital. Através da criação de iniciativas, podemos ajudá-los a ter uma educação de qualidade.

Inactive user | 13/03/2021

Trata-se de uma leitura tão interessante. Penso que vivemos atualmente numa revolução digital em que a Internet se está lentamente a tornar-se um direito humano. É louvável ver um esforço para consolidar múltiplos esforços fracionados e levá-los à Comissão Europeia.

Gostaria que esta iniciativa fosse igualmente alargada à garantia do anonimato enquanto ligado às redes públicas. Notei que muitos terminais wifi exigem dados de utilizador, como um número de telefone para conceder acesso, mas nem todos os utilizadores têm um número de telefone!O acesso à Internet deve ser concedido sem barreiras ou limitações.

A sua análise leva-me a interrogar-me sobre a clivagem digital noutros países muito menos desenvolvidos do que a Europa e espero que as pessoas comecem a perceber que a Internet está a tornar-seapenas uma plataforma para exercer a nossa esfera pública.

Grande emprego Ana Milena para uma investigação tão extensa sobre o tema e para o levar à vista do público. Graças ao AME por patrocinar este trabalho.  

Inactive user | 18/03/2021

A desigualdade tem muitos problemas e a rápida pandemia é um deles: SETOR DIGITAL; Revela muitas diferenças no desenvolvimento quotidiano dos cidadãos. Encorajo as equipas, entidades e vizinhos locais a apoiar essas iniciativas e todos nós não deixamos ninguém para trás.
Agora, mais do que nunca, é necessário, necessário, urgente... erradicar o fosso digital.
 

Declaração de exoneração de responsabilidade: As opiniões expressas no Fórum ICE refletem exclusivamente o ponto de vista dos seus autores, não refletindo necessariamente a posição da Comissão Europeia ou da União Europeia.