«Perdemos a esperança», afirma Matteo Garguilo, organizador da iniciativa de cidadania europeia que apela à proibição das práticas de conversão. E depois, eles ganharam o jackpot quando a cantora belga Angèle convocou seus fãs para apoiar a ECI no Instagram.
A equipa de duas pessoas por detrás da ICE tinha dez dias para passar de menos de 250 000 para um milhão de assinaturas quando decidiu dar um último impulso à sua campanha. Desta vez, um apoio sem precedentes começou a surgir.
Durante os dez dias seguintes, Garguilo mal dormiu tentando manter-se no topo da campanha e coordenar esforços em diferentes países. Os servidores da Comissão Europeia ficaram literalmente inundados com o tráfego que a campanha gerou subitamente, com 900 000 pessoas a visitar o sítio Web da ICE num dia.
«Penso que os últimos dias da ICE foram de loucos», afirma Garguilo. «Perdemos o controlo de algumas delas, mas penso que ainda contribuímos para a estratégia.»
O conselho de Garguilo para outros organizadores? Não percas a esperança, forma uma boa equipa e continua a procurar apoio, independentemente da rejeição que tenhas de enfrentar.
Encontre defensores influentes
O sucesso milagroso da ICE deve-se, em grande medida, ao apoio de artistas francófonos. Entre outros, a equipa contactou Angèle num último esforço, porque precisava de mais assinaturas da Bélgica; e era conhecida por ser amiga das pessoas LGBT.
Os organizadores aproximaram-se dela e ela concordou rapidamente. As mensagens eram simples e persuasivas: prometeu dar um beijo ao seu cão (famoso) por cada fã que assinasse a ICE.
Depois que Angèle e o artista francês Hoshi deram seu apoio, outros artistas seguiram e assinaturas começaram a aparecer. Em poucos dias, subiram 500 mil.
A equipa também observou uma dinâmica semelhante no domínio político. Graças às ligações através de uma organização feminista, o Partido da Esquerda Francesa foi o primeiro a apoiar a ICE, após o que os Socialistas e os Verdes também a apoiaram.
Em seguida, a ICE chamou a atenção dos pesos-pesados políticos. No último dia da campanha, a presidente francesa Emmanuele Macron publicou sobre o assunto nas redes sociais. Cerca de 30 minutos depois, seguiu-se um post do primeiro-ministro esloveno Robert Golob.
Unir forças com outras ICE
A Eslovénia foi um dos países-alvo no último esforço dos organizadores para obter assinaturas suficientes para ultrapassar o limiar em, pelo menos, sete países.
Garguilo e a equipa decidiram pedir ajuda aos organizadores de uma iniciativa de cidadania europeia «A minha voz, a minha escolha», proveniente da Eslovénia. Acordaram em ajudar, utilizando a sua rede de ICE que lhes permitiu chegar a quase 1,2 milhões de assinaturas no início deste ano. (A My Voice My Choice também ultrapassou recentemente o limiar de um milhão de assinaturas.)
«Começámos a fazer tudo juntos», afirma Garguilo. «Têm muitos voluntários em toda a Europa e muitos contactos em termos de organizações e personalidades.»
A colaboração ajudou a equipa a chegar às redes da sociedade civil alemã. Na Croácia, conseguiram ultrapassar o limiar do país num dia.
«Quando chegámos a um país, mudámo-nos para outro país, enviando seguidores para chegar às pessoas, sejam elas influenciadoras LGBT, cantoras LGBT ou mulheres, porque, em geral, as mulheres apoiam muito os direitos LGBT», afirma Garguilo.
Calendário estratégico
A campanha foi estrategicamente programada para começar e terminar em 17 de maio, o dia internacional contra a homofobia, a bifobia e a transfobia.
«Foi o momento de todos os partidos políticos falarem sobre os direitos das pessoas LGBTI e é por isso que o colocamos nesta data», afirma Garguilo.
A aposta valeu a pena. Em 13 de maio, Emmanuele Macron partilhou o seu apoio à campanha, tendo-se seguido muitos outros. A lógica era simples: Os políticos tiveram que reconhecer a ocasião e mostrar uma iniciativa. A ICE deu-lhes um pequeno fruto.
Além disso, os organizadores sabiam que as pessoas ficam entusiasmadas quando há um sentimento de urgência por trás de uma campanha. Garguilo diz que viu isso acontecer na Itália quando uma petição sobre a cidadania reuniu 450 mil assinaturas em cinco dias depois de estagnar em 50 mil durante meses.
Esta urgência da corrida final para um milhão, aliada a um aumento no interesse pelos direitos LGBT+, acabou por ser a receita perfeita para o sucesso.
Os utilizadores dinamarqueses das redes sociais foram inundados com mensagens de falantes de francês e inglês sobre a iniciativa. Garguilo ouviu histórias sobre a ICE ser partilhada numa aula de espanhol nos Países Baixos e alguém gastar 150 euros para publicitar a ICE. «Foi mais do que o nosso orçamento, porque não tínhamos orçamento», riu Garguilo.
Não subestime uma boa equipa
No final do dia, foi tudo um esforço de uma boa equipa. A ACT, a organização por trás da ICE, é apenas duas pessoas. Mas a rede em que se formaram e confiaram levou-os ao sucesso.
Na França, seu maior aliado foi a conta do Instagram @lecoindeslgbt, que ajudou a espalhar a mensagem. A sua influência na obtenção de apoio francês foi inegável, já que mais de 50% das assinaturas vieram do país.
E a @lecoindeslgbt foi apoiada pelo coletivo feminista francês NousToutes. «Eles ajudaram-nos muito e, por isso, empurrámos muito em França e tivemos alguns contactos na política», afirma Garguilo.
Este forte apoio foi importante, especialmente porque a equipa não se sentiu apoiada por outras grandes organizações da sociedade civil, que estavam relutantes em apoiar uma iniciativa que não lançaram.
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